quinta-feira, 10 de abril de 2014

Trovadorismo - Literatura

Trovadorismo
O primeiro período da literatura portuguesa é conhecido como Trovadorismo (Aproximadamente entre os anos 1198 ou (1189) à 1418.
A primeira manifestação literária que se tem notícia: “Cantiga de Garvaia” ou “Cantiga Ribeirinha”, de Paio Soares de Taveirós. Como essa cantiga não é o inicia da literatura portuguesa e sim o documento mais antigo que chegou até nós. Não há como saber a data real do aparecimento da literatura.
São chamados de trovadores os poetas da fase final da idade média. Além disso eles eram músicos e compunham as melodias que cantavam seus poemas. A poesia deles era sempre associada à música e estava presente tanto nas reuniões palacianas quanto nas festas populares. Nessa época além de haver poesias, houve também prosas, que eram representadas nas novelas de cavalaria.

Poesia Trovadoresca

Era uma poesia ligada a música e cantada com instrumentos musicais (Viola, alaúde, flauta, gaita). Como elas eram feitas para o canto e a dança deveriam ter um bom ritmo, para que tivesse uma boa execução e fosse fácil de memorizar. Com isso há a presença dos refrãos e do paralelismo.
Esse tipo de poesia tem-se dois gêneros, a lírica (Cantiga de amor e amigo) e a Satírica (Escárnio e maldizer).
ü  Cantiga de amor:
Estes meus olhos nunca perderán,
senhor, gran coita, mentr'eu vivo for.
E direi-vos, fremosa mia senhor,
destes meus olhos a coita que han:
     choran e cegan quand'alguén non veen,
     e ora cegan per alguén que veen.

Guisado tẽen de nunca perder
meus olhos coita e meu coraçón.
E estas coitas, senhor, minhas son;
mais-los meus olhos, per alguén veer,
     choran e cegan quand'alguén non veen,
     e ora cegan per alguén que veen.

E nunca ja poderei haver ben,
pois que Amor ja non quer, nen quer Deus.
Mais os cativos destes olhos meus
morrerán sempre por veer alguén:
     choran e cegan quand'alguén non veen,
     e ora cegan per alguén que veen.
(Joan Garcia de Guilhade, século XIII)       
Nas cantigas de amor o “eu lírico” é masculino e expressa as emoções pela mulher amada. Fala sobre a vida da corte, o ideal do amor cortês. Geralmente fala sobre um ambiente palaciano, onde a mulher é idealizada, inatingível e o trovador é submisso. Com expressões do tipo: “mia dona”, “mia senhor”, “Fremosa dona”. E relata a “coita d’amor”, a “solidão” e etc.  
ü  Cantiga de amigo:               
--- Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
           Ai, Deus, e u é?

Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
           Ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
           Ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
           Ai, Deus, e u é?

--- Vós me preguntades polo vosso amigo?
E eu ben vos digo que é sano e vivo.
           Ai, Deus, e u é?

Vós me preguntades polo vosso amado?
E eu ben vos digo que é vivo e sano.
           Ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é sano e vivo
e seerá vosco ante o prazo saido.
           Ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é vivo e sano
e seerá vosco ante o prazo passado.
           Ai, Deus, e u é?
(Dom Dinis, Séculos XIII-XIV)

Nas cantigas de amigo o “eu lírico” é feminino, o trovador expressa as emoções da mulher como se ela estivesse falando. Geralmente fala sobre a vida popular, no cotidiano familiar e rural (pastoras, camponesas, etc.) o dialogo da moça sobre seus sentimentos e expressa uma visão “realista” do amor, com desejos humanos e sensuais.
ü  Cantigas de escárnio:
Ũa dona, non digu'eu qual,
non aguirou hogano mal:
polas oitavas de Natal
ía por sa missa oír,
e houv'un corvo carnaçal,
     e non quis da casa saír.

A dona, mui de coraçón,
oíra sa missa, entón,
e foi por oír o sarmón,
e vedes que lho foi partir:
houve sig'un corv'a carón,
     e non quis da casa sair.

A dona disse: Que será?
E i o clerigu'está ja
revestid'e maldizer-mi-á,
se me na igreja non vir.
E diss'o corvo: quá, aca,
     e non quis da casa saír.

Nunca taes agoiros vi,
des aquel día que nací;
com'aquest'ano houv'aquí;
e ela quis provar de s'ir,
e houv'un corvo sobre si,
     e non quis da casa saír.
(Joan Airas de Santiago, Século XIII)
Na Cantiga de Escárnio ocorre uma sátira, sutil, indireta, com muito ironia e ambiguidade, onde não há como saber quem é o indivíduo ofendido.
ü  Cantiga de Maldizer:
Ai, dona fea! Foste-vos queixar
que vos nunca louv'en meu trobar;
mas ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

Ai, dona fea! Se Deus me pardon!
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
(Joan Garcia de Guilhade, século XIII)
Na Cantiga de Maldizer ocorre uma sátira direta, agressiva, com linguagem objetiva, sem disfarce e carregado de termos de baixo calão.

Principais Trovadores
D. Dinis, o Rei Trovador (1261-1325)
ü  138 composições conhecidas, sendo 76 de amor, 52 de amigo, e 10 de maldizer
ü  Oficializou a língua portuguesa
ü  Fundou a Universidade Portuguesa em 1290, sediada primeiramente em Lisboa, depois transferida para Coimbra
Paio Soares de Taveirós
ü  Autor da Cantiga Ribeirinha, o texto trovador mais antigo que até desafia alguns especialistas
ü  Uns que é cantiga de amor, outros dizem que é de escarnio.

E outros como:

Nuno Fernando Torneol
João Zorro
Martin Codax
D Afonso X, o Sábio- Rei de Leão e Castela

 

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